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Foto do escritorFilipe Arouck

O Homem que Previu o Futuro

Você conhece o manifesto criptoanarquista? Em 1992, Timothy C. May escreveu sobre o "mundo moderno". Qualquer semelhança com o mundo em que vivemos não é mera coincidência.

Naquela época, a internet ainda estava engatinhando e a ideia de criptomoedas era algo distante, quase ficção científica. Mas May enxergava um futuro onde as pessoas seriam capazes de proteger suas informações de forma inquebrável, usando criptografia. Um mundo onde o dinheiro e as transações financeiras não dependeriam de governos ou bancos, mas estariam nas mãos dos próprios indivíduos. Parece familiar?

Timothy May era parte do movimento cypherpunk, um grupo de pensadores que, apesar do nome que soa agressivo, tinha um objetivo claro: questionar e defender a liberdade individual em uma era de vigilância crescente e controle estatal.

O grupo surgiu como uma espécie de contra-ataque à internet, que, naquela época, estava sendo moldada pelo governo dos EUA. Inspirados por obras como 1984 de George Orwell e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, eles temiam que, nas mãos do governo, a internet se tornasse uma ferramenta devastadora de controle e vigilância sobre as pessoas.

Em 1992, Timothy May publicou o Manifesto Criptoanarquista, onde já previa um futuro em que indivíduos poderiam trocar mensagens, fechar negócios e firmar contratos digitais de forma completamente anônima, tudo graças à criptografia. Se hoje já é desafiador para muitos assimilar a ideia de uma moeda digital como o Bitcoin ou o uso de contratos inteligentes, como os da rede Ethereum, imagine prever tudo isso antes mesmo da internet se consolidar no mundo.

Mas Tim foi além. Ele não apenas antecipou essas tecnologias, mas também previu o impacto que teriam na sociedade, além de como o Estado inevitavelmente tentaria frear sua disseminação.

Ele cita que o Estado alegaria "preocupações com a segurança nacional", como o incentivo ao terrorismo, para justificar a repressão a essas tecnologias. E isso já se concretizou. Vimos desenvolvedores e idealizadores de projetos sendo presos e perseguidos, como Ross Ulbricht, criador da Silk Road, condenado à prisão perpétua por facilitar transações com Bitcoin em sua plataforma; Virgil Griffith, preso por compartilhar conhecimento sobre blockchain na Coreia do Norte; e Alexey Pertsev, detido por desenvolver o Tornado Cash, uma ferramenta de privacidade financeira. Casos como esses refletem o medo do governo de perder o controle sobre sistemas descentralizados. É claro que manipular a opinião pública faz parte do processo. Afinal, quem não apoiaria medidas para identificar e frear o terrorismo? Foi exatamente isso que Tim antecipou: o Estado usaria o medo como uma ferramenta poderosa para justificar o controle dessas tecnologias emergentes, rotulando-as como ameaças à segurança nacional. Tim também previu que o Estado alegaria o uso dessas tecnologias por traficantes de drogas, sonegadores de impostos, e levantaria temores de desintegração social. E mais uma vez, essas previsões se concretizaram. Recentemente, vimos o caso de CZ, ex-CEO da Binance, preso pelo governo americano sob acusações de facilitar a lavagem de dinheiro e ignorar regulações financeiras. Além disso, o fundador do Telegram, Pavel Durov, também enfrentou perseguições e foi preso devido à recusa em cooperar com governos para liberar dados de usuários, levantando questões sobre privacidade e segurança nas plataformas digitais.

Esses casos reforçam a visão de May sobre o esforço contínuo do Estado em reprimir tecnologias descentralizadas sob o pretexto de proteção e segurança. May não apenas vislumbrou essas tecnologias antes de seu tempo, mas também previu suas repercussões para o futuro. Ele sabia que a criptografia, as criptomoedas e a privacidade digital transformariam a forma como interagimos, e que esses avanços trariam consigo tensões inevitáveis entre a liberdade individual e o controle governamental.

Hoje, em um mundo cada vez mais digitalizado, vivemos os desdobramentos dessas previsões. O surgimento de moedas digitais como o Bitcoin e a proliferação de contratos inteligentes no Ethereum são apenas a ponta do iceberg. Governos ao redor do mundo estão correndo para regulamentar e, em alguns casos, reprimir essas tecnologias que ameaçam sua capacidade de controle. O medo de uma sociedade onde as transações financeiras, os dados pessoais e os contratos jurídicos escapam da supervisão estatal é um pesadelo para muitos governos, mas para os criptoanarquistas, como May, isso era exatamente o que deveria acontecer.

As prisões de desenvolvedores e a perseguição a líderes de grandes plataformas são apenas os primeiros sinais de um conflito muito maior: a batalha entre o controle centralizado e a liberdade descentralizada. Para Timothy May, essa era a verdadeira revolução — uma revolução silenciosa, conduzida por códigos e criptografia.

Embora o Manifesto Criptoanarquista tenha sido escrito há mais de 30 anos, suas ideias continuam mais vivas do que nunca. As tecnologias que May antecipou estão remodelando o mundo, forçando governos a enfrentarem dilemas que antes pareciam ficção. A pergunta que fica é: será que estamos preparados para lidar com esse futuro?

A verdadeira revolução que Timothy May imaginou não é apenas sobre criptomoedas ou contratos inteligentes, mas sobre a redefinição do poder. O Estado, como ele previu, fará tudo o que puder para reprimir essa transformação, mas o avanço da tecnologia está indo além do controle centralizado. E enquanto isso, a visão de May sobre um futuro descentralizado continua a guiar aqueles que acreditam que a privacidade e a liberdade individual são direitos fundamentais que não devem ser negociados.

O futuro que May previu já está acontecendo. A pergunta agora é: o que faremos com ele? Fonte:

O MANIFESTO CRIPTOANARQUISTA

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